Depoimento

O silêncio já me pareceu algo fora do normal.
As luzes apagadas, o rádio desligado, o silêncio ensurdecedor denunciava sua ausência.
Não estava ali.
Atentei-me melhor, vi uma pequena claridade que vinha de seu quarto.
Aproximei-me sentindo um misto de esperança e medo que fazia meu coração disparar, minha respiração tornara-se tão irregular quanto a de alguém que por pouco não se afogara.
Ela não estava lá.
Examinei o quarto com mais atenção, tudo em seu lugar, sua bagunça amável e quase organizada mais havia algo de diferente... Me aproximei da escrivaninha fracamente iluminada pelo antigo abajour.
Um bilhete. Amassado denunciando a indecisão dela, típica e encantadora.
Não sabia porque, mais eu não queria me aproximar daquele bilhete, como se aquela fosse a arma que colocaria fim a minha existência.
Li as palavras uma de cada vez, quase relutante em acreditar. Fechei os olhos com força desejando que elas sumissem num passe de mágica, elas ainda estavam lá, não havia escapatória.
"Não há mais esperança, adeus."

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