Marina

Marina se levantou, era óbvil que não havia mais nada a fazer.
Ela passara a noite inteira chorando, e , ao raiar das primeiras horas da madrugada, quando finalmente adormeceu estava arrasada.
Não entendia como podia gostar tanto de alguém depois de tanto tempo, mas a lembrança estava ali, se fazia forte e parecia que nunca ia deixar de existir.
Muitas vezes ela tentara esquece-lo, durante meses achou realmente que havia conseguido, no entanto ele voltara de viagem e trouxera com ele todas as lembranças que Marina havia jurado deixar para trás.
Eram vizinhos...isso piorava muito as coisas.
Quando ele fora embora para passar um ano no programa de intercambio sabe-se lá Deus pra onde, não deixou Maria o abraçasse na despedida.
Apenas se disseram um "adeus" seco ali, na frente do portão e depois ele partira sem olhar para trás.
Marina passara dias chorando, mal saia de casa e se culpava todos os dias pelo fim da história dos dois.
-Imperdoavel.
Repetia ela todas as noites na frente espelho antes de dormir.
O fim da história dos dois fora o mais confuso que aquela rua já vira, num dia estavam bem, no outro evitavam-se e ninguém sabe até hoje por que.
NINGUÉM
Nem Marina, nem Gustavo, nem qualquer outro que convivesse com os dois.
Eles simplesmente não podiam mais....
Axo que essa é a explicação mais cabivel.
No entanto, Marina assumira toda a culpa, ela sempre fazia isso. A figura idealizada de Gustavo jamais seria a culpada, não importavam as circunstâncias.
Mais isso tudo era passado.
Marina passara os ultimos meses mais conformada, me atreveria a dizer que ela voltara a sorrir. No entanto a volta de Gustavo touxe tudo de volta e ela não pode evitar a volta das lágrimas.
Ele voltara mais encantador do que nunca, isso era inegavel. Mas parecia também ter voltado mais disposto a provar a si mesmo o quanto tinha Marina nas mãos.
Ele agora passava horas conversando com ela, só os dois.
Olhavamos das janelas e era como se o tempo tivesse voltado para aquele 12 de junho. Seus olhos não se afastavam dos olhos dela nem por um segundo se quer; puro veneno...ah, se Marina ao mesnos desconfiasse.
Passaram semanas assim, até que Gustavo sumiu, não o viamos mais na rua, ele chegava muito tarde em casa e saia muito cedo, seu celular estava sempre desligado e jamais atendia os telefonemas em sua casa, nem mesmo aos domigos.
O boato que corre por ai é que Gustavo foi-se embora com Marina, que fugiram pra qualquer lugar por ai.
No entanto, nós que estavamos na rua naquela noite de 26 de julho sabemos que Gustavo não passava por ali quando Marina saiu para seu ultimo passeio.

Respiração


Tudo gira,
E nessa roda de giro incessante
chamada mundo
Eu permaneço parada

O giro confuso engana-me
Vejo o céu mudar de cor,
Vejo as flores crescerem,
Mais permaneço imóvel
Como o tempo que não passou

Relógios parados,
Sons distântes,
Passos...

Tudo isso tornou-se ilusão
Real, novamente...
Só o som de uma respiração...

Inquieta respiração, forte, cansada...
Indiferente ao mundo que gira,
Indiferente ao tempo que corre,
Quem mata...e quem morre...
Um som vivo, forte, capaz de irritar a morte
Respiro fundo então...

E vejo a vida resumida em um som...
Respiro fundo...
E vejo o mundo parar,
parado como meu coração .

Deixa-me


E outra vez teus olhos encontrariam os meus,
Eis meu devaneio mais profundo...
No entanto, a esperança logo me deixa
Teus olhos evitam os meus,
Embora tuas palavras ainda pareçam doces...

É engraçado perceber, mas jogas comigo
Eu sinto, eu vejo...porém não fujo
Não se importa mais, eu sei, não se importa
Mas não posso evitar
Você ainda possui meu coração
Você existe em minha alma,
Você é tudo o que existe....

Angústias que envadem minha alma,
Que confundem minha mente,
Teu sorriso que se faz presente
E uma dor que me torna quase inexistente

Deixa-me
Peço para que eu possa tentar sorrir,
Um sussurro de minha alma,
Algo que mal pode-se ouvir...

Deixa-me
Pois eu que já não posso mais
Provo-me fraca, pequena criatura que sou,
Juro-me indigna de teu amor,
Digo o que você quiser...

Mais peço um único favor
Deixa-me....
Para que eu possa viver novamente.

Melancolia


Passei muitos dias
Perdida dentro de mim,
Presa em minhas lembranças
Num devaneio sem fim.

Culpados eu procurei,
Mentiras que eu construí
Minha mente sempre confusa
Relutava em admitir.

Loucuras eu condeinei,
Mas muitas eu cometi...
Mentiras que eu jurei
Num passado que esqueci.

Prendi-me ao velho segredo
Percorri longas distâncias,
Chorei, muitas vezes por medo,
Por dor ou insegurança.

Culpados eu condenei,
Por medo de admitir
Que do pior tormento
Fui causa, consequência e fim.

Procuro hoje distânte,
Dos erros que cometi
Somente uma palavra
Que liberte o que existe em mim.