Epígrafe

A neblina não me deixava ver com clareza mais eu podia sentir...
Sentir o cheiro, o perfume, o calor que emanava do corpo dele
Tudo evindênciava sua presença...

Apressei o passo, mudando levemente de direção
O encontro não era desejado, por nenhuma das partes
E ele deixara isso bem claro.

Claro, porém inevitável.
Senti o toque brusco do esbarrão de ombros
Esperei o olhar que queimaria meu ser
como se eu tivesse culpa pelo encontro indesejado.

Esperei em vão,
O que recebi em lugar disso, no entando
Deixou-me atordoada.
Como ele podia sorrir?

Um sorriso doce e amável,
como de quem se desculpa
que nada condizia com a sensação brusca do esbarrar.
O olhar que mantinha a cordialidade do sorriso
e não mais que isso.

Um ultimo momento, um adeus antes do que estava por vir.

Depoimento

O silêncio já me pareceu algo fora do normal.
As luzes apagadas, o rádio desligado, o silêncio ensurdecedor denunciava sua ausência.
Não estava ali.
Atentei-me melhor, vi uma pequena claridade que vinha de seu quarto.
Aproximei-me sentindo um misto de esperança e medo que fazia meu coração disparar, minha respiração tornara-se tão irregular quanto a de alguém que por pouco não se afogara.
Ela não estava lá.
Examinei o quarto com mais atenção, tudo em seu lugar, sua bagunça amável e quase organizada mais havia algo de diferente... Me aproximei da escrivaninha fracamente iluminada pelo antigo abajour.
Um bilhete. Amassado denunciando a indecisão dela, típica e encantadora.
Não sabia porque, mais eu não queria me aproximar daquele bilhete, como se aquela fosse a arma que colocaria fim a minha existência.
Li as palavras uma de cada vez, quase relutante em acreditar. Fechei os olhos com força desejando que elas sumissem num passe de mágica, elas ainda estavam lá, não havia escapatória.
"Não há mais esperança, adeus."