O onibus

Sento-me no lugar de costume.
O onibus me parece mais vazio do que o comum, em
bora eu preferisse estar sozinho nesse momento.
A figura a três bancos a minha frente, um dos poucos ocupados deste lado do onibus, parece-me inquieta, sua figura inspira-me curiosidade. Observo melhor.
É um senhor que já trás os cabelos todos brancos, seu óculos redondo rebusca-lhe ainda mais tempos antigos, veste um casaco verde musgo com pequenas listras vermelhas, afastadas de mais para que eu o considere xadrez.
O velho tosse, por algum motivo inexistente desvio o olhar, como se eu tivesse sido descoberto em minha observação, um intruso naquele momento tão particular.
A tosse passa e eu, já não mais preocupado com os problemas do dia nem mesmo com a forte dor de cabeça causada pelo excesso de horas no computador do trabalho, volto a mergulhar naquele universo que não é meu. Sou um intruso, um bisbilhoteiro sem direitos, um espião.
Reflito um pouco mais sobre a sua figura, não parece vir do trabalho, não tem o ar cansado dos que o fazem e o horário não é muito comum, não parece ter ido visitar nem ao médico, não trás exames debaixo do braço nem o sorriso de um reencontro. O que será que o deixara agitado naquele momento? Qual será o motivo da tosse? Estaria doente? Muito doente?
O onibus para, meu alvo observado levanta-se calmamente, ao passar ao meu lado faz um aceno com a cabeça com um tom de adeus. Desce do onibus.
Continuo meu trajeto, imóvel, ainda especulando a figura que agora não me sai da mente.
Nada mais posso fazer se não esquecer.
Meu ponto, eu desço. Adeus.






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